A Fórmula da Vibração!

Rock n´ roll na veiaaaaaa! Ok ok, Frase feita, lugar comum. Pode falar o que quiser, mas não dá pra dizer outra coisa dessa banda.

Existem certas situações em que não é preciso reinventar a roda para melhorar um veículo. Instrumentistas extremamente competentes, completamente integrados a um vocalista talentoso e lotado de carisma. No que pode dar isso? Em nada mais nada menos do que Rock n´ Roll da melhor qualidade! Isso é Vibratto!

Eu já tinha assistido a duas apresentações da banda (ou uma e meia) e gostei muito do que vi, mas a apresentação no dia 17 de maio último no espaço AVIC teve realmente algo de diferente. A banda me pareceu mais madura, mais coesa, mais confiante.

O Local

Logo que cheguei ao local da apresentação a minha impressão, confesso, não foi muito boa. Entrada à R$ 10,00, a fumaça de cigarro impregnava o ambiente, o calor lá dentro era absurdo, a cerveja era cara e a “ornamentação” era feita à base de folhas de compensado nas paredes e uma ou outra luz colorida.

Se é um começo, tudo bem, este espaço será muito bem-vindo quando eu, dentre outros, terei o orgulho de dizer, dentro de um espaço devidamente climatizado e confortável, que assisti ao primeiro show realizado ali e que o show fez com que todos ali presentes esquecessem das condições no ambiente, tamanha qualidade do mesmo.

Todos os que chegaram cedo disseram que o primeiro show foi excelente, como decidi ir ao evento em cima da hora, acabei chegando tarde e assisti “apenas” à banda que para mim está entre as grandes revelações musicais de nossa cidade nos últimos tempos, a banda Vibratto.

A Banda
A Cozinha competente

Minha pequena experiência na área me diz que uma boa banda começa necessariamente numa boa cozinha. Darío Buján (Bateria) e Felipe Capachão (Baixo) dão conta do recado primordialmente, como que alertando aos já atônitos espectadores (eu diria futuros fãs) que eles não assistirão a mais uma bandinha qualquer, como que dizendo que uma luz boa é legal, efeitos especiais no palco ajudam, climatização adequada é jóia, mas um show de qualidade se faz mesmo é com competência, dedicação e talento.

A sala de estar arrumadíssima

Não tem jeito: 9 entre 10 pessoas que gostam do estilo vão “babar” mesmo é por aquele maravilhoso instrumento de 6 cordas chamado GUITARRA! Está neste grupo? Felipe Machia e Israel Esquef estão aí pra isso! Sem estrelismo, sem masturbações musicais, sem licks “aprendidos-em-revistas-de-guitarra-pra-impressionar” mas com todos aqueles pequenos detalhes que fazem do Rock mais que um estilo musical, um estilo de vida: Israel faz o “guitarrista tímido” da banda, você conhece o estilo. É aquele cara que fica com um sorriso meio sem-graça como quem não quer nada com a guitarra no ombro, mas que na hora de mostrar a que veio mostra aos possíveis “guitarristas-de-musiquinhas-da-malhação” na platéia como se faz para manusear o sagrado instrumento de seis cordas que praticamente fez o Rock no mundo. Felipe já faz o tipo mais performático: alinha o braço da guitarra com o corpo, inclina-se pra trás na hora do solo, faz careta na hora de botar a criança pra chorar com o wah-wah. Grandes instrumentistas podem se dar ao luxo de serem performáticos, pois isso faz parte do show que eles fazem. Complementa o espetáculo. Mostra o envolvimento do músico com o que está fazendo, enfim.

O Alicerce sólido

Quem faz com que isso tudo chegue ao público? O porta-voz da banda? O elo entre a parte de cima e de baixo do palco? Thiago Azevedo, é claro! Eu posso ser suspeito pra falar da atuação desse cara, por ser amigo dele há anos, mas depois de assistir a banda pela primeira vez, eu me tornaria fã mesmo que tivesse a maior das antipatias por ele... Como se isso fosse possível!! Thiago se comunica com a platéia sem medo, de igual pra igual, carisma e talento puros. Canta como nunca, brinca com público, bate palmas no ritmo da música, faz pose com o pedestal do microfone. Se diverte, ousa!

Aliás, ousadia é uma marca registrada da banda. Depois da pergunta “alguém aí gosta de Beatles?” feita por Thiago aos espectadores, a banda despretensiosamente apresenta uma versão “suingada” (por falta de um termo melhor) para um hino dos Beatles. Day Tripper, aparece numa versão criada por eles, que ousaram modernizar um clássico eterno da melhor banda de todos os tempos. Loucura? Vilipêndio aos deuses do Rock? Atrevimento de moleques irresponsáveis? Não! Definitivamente não! Ousadia e inovação (que são, afinal, a essência verdadeira do Rock n´ Roll) no melhor dos sentidos, que cria algo novo, que reinventa um clássico, que faz com que fãs incondicionais daquela banda pensem “bem que os Beatles podiam ter tentado tocar Day Tripper dessa forma também como alternativa em um show ou outro... ficaria legal”.

O repertório da banda é muito bem escolhido. Confesso que, mesmo sendo "do ramo" há uns belos 15 anos, eu não conheço algumas das músicas que a Vibratto toca, mas o mais legal é que ao sair de um show desses você vai em busca do conhecimento, começa a se interessar por essas músicas e quando ouve a versão original, para algumas músicas é inevitável um pensamento como “Hum.... com a Vibratto eu achei mais legal...”

Conclusão

O amadurecimento e entrosamento da banda é incrível! Até nos momentos daqueles pequenos erros que acontecem com qualquer banda e que a maioria das pessoas na platéia nem nota os integrantes simplesmente trocam olhares de soslaio, um pequeno sorriso de cumplicidade e simplesmente seguem em frente. Se o vocalista não tem certeza de ter decorado completamente a letra de revolution, qual o problema? Pega a pasta com a letra e coloca no chão ao lado do microfone! Sem constrangimento e sem precisar esconder de ninguém. Afinal, crédito com o público é o que não falta.

Seja por atitudes, qualidade musical, repertório sólido ou por tudo misturado (o que é mais provável) a banda Vibratto evoca sentimentos e emoções latentes no público apaixonado pelo Rock n´ Roll clássico: impossível não pensar em montar uma banda (mesmo que seja sua décima banda) ao ouvir Purple Haze (Hendrix) , pensar em arrumar uma namorada “de verdade” ao ouvir Thank You (Zeppelin), pensar em como a vida é simplesmente incrível ao ouvir Remedy (Black Crowes), ou mesmo pensar em falar pro cara do lado: “eu conheço ele, eu sou amigo dele” durante todas as músicas executadas por esta banda que, acima de tudo, presta um excelente serviço ao Rock n´ Roll.

Que as palavras de Thiago ao final do show: “Nós viemos pra ficar” sejam abençoadas por todos os deuses do Rock! Vida longa à Vibratto! Amém!

Felippe Felix Neto.